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Ser mulher e empreendedora em isolamento no interior

Cristina Oliveira

Ser mulher e empreendedora em isolamento no interior

Na atualidade persistem fortes assimetrias na relação povoação versus território, em Portugal, já que se sabe que o interior vem sendo palco, há várias décadas, de um processo de despovoamento e perda de serviços.

O interior, no entanto, segue como cenário da vida de muitas famílias, de muitas mulheres, que ali desenvolvem suas profissões e criam seus filhos. Certamente, as que vivem nestes espaços, conseguem manter outras rotinas e possuem outra relação com a passagem do tempo. Possivelmente, a realidade de desertificação, as obrigue, por vezes, a desenvolver uma maior resiliência para com a situação como esta na qual nos encontramos, por terem já se habituado a uma condição de maior isolamento.

Temos assistidos todos os dias a imagens que refletem a situação dos grandes aglomerados urbanos, em Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Ovar entre outros. Ouvimos relatos de famílias urbanas a contar o seu dia a dia, a sua semana, a sua dificuldade em gerir o tempo com os filhos, a gerir o tempo entre o teletrabalho e a família. Assistimos no pequeno ecrã relatos de mulheres citadinas desesperadas por nunca terem vivido tanto tempo com os filhos, com o companheiro, dividindo o mesmo espaço.

Mas, e no interior, como é vivida esta situação? Mais uma vez, o interior não é divulgado. Será o interior mais uma vez esquecido? Apesar da desertificação, ainda há vida nas aldeias, nos concelhos, nas cidades pequenas, onde sempre houve tempo para a família, para o convívio, e talvez pouca coisa mude. Quem tem a sua horta, o seu jardim, o seu terreno para cultivar, tem sempre um entretenimento, uma obrigação, um trabalho. Quem conhece os vizinhos, sabe sempre que poderá contar com a ajuda ao lado. Quem vive nas proximidades de suas famílias, poderá ter mais segurança de que tudo está bem, e ficará bem!

Não pensemos, contudo, que no interior há somente agricultura. Também existe convívio social, atividades comerciais, inúmeros serviços, micro e pme´s. E nestas zonas, também habitam e operam mulheres empresárias que, de dentro de suas casas, tentam gerir seu tempo, a família e os negócios, mesmo que remotamente.

Defendemos, contudo, que desta situação sem precedentes, que obriga mulheres que vivem em ritmo frenético, atarefadas e divididas entre suas centenas de obrigações diárias, se sobressairão aquelas que vivem no interior! Sem menos obrigações e preocupações, contudo, as mulheres das zonas rurais têm mais intimidade com a proximidade, com o relacionamento estreito, com a necessidade de ficar em casa, a que nestes dias se obriga. Elas têm suas flores e seus jardins, seus animais e seus entes queridos, todos ali por perto, zelando uns pelos outros, mesmo que agora a alguma distância.

Estas mulheres são como todas as outras, umas, donas de casa, outras professoras, outas médicas, engenheiras, outras são empresárias, algumas gerem negócios familiares, outras são jovens empreendedoras.  Sim! Existe empreendedorismo no interior, nas zonas rurais.

Não há nenhuma fatalidade relativamente ao interior. Este tem um potencial enorme, com oportunidades em vários domínios. É o mais próximo do coração do mercado ibérico, para o qual temos de ter a ambição de crescer. Não crescemos se não apostar no interior, nas suas gentes, nas suas mulheres. Sem emprego, sem fixar população não há capacidade de atrair pessoas e novos negócios.

Sou mulher, mãe e empreendedora e conheço a realidade do interior.  Conheço outras mulheres que como eu, ambicionaram e criaram os seus negócios, os seus sonhos.

Para quem quiser deixar o seu contributo, deixo aqui um link onde poderá escrever e contar a sua experiência. Todos os relatos são bem-vindos, todas as vivências são importantes contributos para demonstrar que o interior não está morto, pelo contrário está vivo.

https://www.ruralvive.pt/contacto/

Um bem hajam a todas as mulheres.

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